Semana passada, porém, o MEC (Ministério da Educação) divulgou algumas mudanças para a aplicação do ENEM neste ano. Diante de um assunto tão importante como este, o artigo desta semana tratará das implicações da reforma do Ensino Médio e qual impacto dessas mudanças para o Exame Nacional do Ensino Médio.
"O GOVERNO TEMER EMPURROU AS DISCUSSÕES DA REFORMA A NÍVEL APRESSADO." José Aldo.
É público e notório que o governo Temer empurrou as discussões sobre este tema da reforma a nível apressado/atropelado. As discussões acerca do tempo de aula das disciplinas, a base nacional comum e da implantação paulatina da escola de tempo integral estavam adquirindo outro patamar durante os governos Lula/Dilma.Sem contar ainda que com a “criação” do 9 ano do ensino fundamental (2009), a obrigatoriedade do ensino de Filosofia/Sociologia nos 3 anos do Médio (2006/2008), a criação da Rede Federal dos Institutos Federais (2008), a criação do Piso nacional dos professores (2008/2009), o REUNI (2007) dentre outras, a educação básica e o ensino superior ganharam mais investimentos e profissionais nos últimos 10 anos.
CONQUISTAS AMEAÇADAS.
A partir do Governo Temer, porém, tais conquistas estão sendo ameaçadas. Quando digo ameaçadas é no sentido de que esse porte financeiro para manter esses projetos podem ser pulverizados nos próximos anos.Você tira como exemplo a diminuição orçamentária de algumas Universidades no ano passado. Dentre elas, a UFC teve um corte de mais de 20 milhões de reais. Diante deste cenário de crise financeira que o Brasil atravessa, a equipe econômica de Michel Temer lança algumas medidas impopulares para tentar equilibrar as contas públicas.
MEDIDAS IMPOPULARES.
Uma destas medidas são as “benditas” reformas da previdência e trabalhista. No caso de nós, educadores, a reforma do ensino médio atinge-nos diretamente. Medidas como a não obrigatoriedade de matérias como Filosofia, Sociologia, Artes e Educação física trouxe a tona o seguinte questionamento: que modelo de educação que queremos para os nossos filhos?Além do ataque a essas matérias, a disciplina de espanhol foi atingida também.
No lugar de essa matéria ser trabalhada nos 3 anos do médio, a mesma passaria para o ensino fundamental. Em seu lugar o inglês tornar-se-ia obrigatória. Sem esquecer ainda que disciplinas como História e Geografia perderiam o caráter obrigatório.
"OS ATAQUES CONTRA A EDUCAÇÃO VIERAM COM TODO GÁS." José Aldo.
Percebe-se então que os ataques contra a educação vieram com “todo gás”/com toda força. Completando essa situação dramática, temos o fato do notório saber. Ou seja, pessoas podem ministrar aula sem serem formadas naquele tema; basta apenas ter anos de experiência na área em questão e pronto, estará contratado.Mesmo o governo justificando essa aplicação para os casos de ensino técnico, mas abre uma brecha para a precarização do modelo educacional vigente.
A PROPOSTA DA CRIAÇÃO DO "MEDIOTEC" NO CENÁRIO CEARENSE.
E por falar em precarização, a propaganda oficial afirma ainda que a criação do “mediotec” proporcionará a chance do estudante de entrar no mercado de trabalho. Contudo, analisando o caso do Estado do Ceará com suas escolas profissionalizantes vemos que este “oásis” de oferta de emprego não é bem assim.Não há condições para o mercado absorver a demanda anual de estudantes concluintes do ensino médio. Mesmo que estes tenham experiência, as empresas não conseguem pagar em dia o quantitativo de impostos que um jovem funcionário acarreta na folha salarial.
"HÁ UM INCHAÇO DE JOVENS DESEMPREGADOS QUE NÃO CONSEGUEM LOCAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO." José Aldo.
Consequentemente, há um inchaço de jovens desempregados que não conseguem colocação no mercado de trabalho. Ou seja, o governo atual “cobre uma parte do lençol, mas deixa descoberta a outra parte do corpo”. Com efeito, o modelo atual de reforma educacional não atende as reais exigências de uma educação inclusiva e pública para todos.A escola não é só Matemática, Português e Inglês como disciplinas obrigatórias. Ela é muito mais ampla e que merece ser estudada de um modo mais aprofundada. Até porque uma escola que queremos deve repassar aquilo que os jovens merecem e que estão no cotidiano de suas vidas. E claro, uma escola que ouça todos os lados para que encontremos um denominador comum.
"CASO OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO NÃO SE UNAM CONTRA ESSES ATAQUES, DECRETAREMOS A NOSSA PRÓPRIA EXTINÇÃO." José Aldo.
Infelizmente até o nosso trabalho está sendo ameaçado. Medidas como a “Escola sem partido” ou mesmo a Lei da mordaça tentam castrar a autonomia e a liberdade de expressão do trabalho docente.É inaceitável que existam educadores que queiram eliminar o ganha pão de seu trabalho com posturas altamente conservadoras. Caso os profissionais da educação não se unam contra esses ataques, decretaremos a nossa própria extinção.
AS MUDANÇAS NO ENEM 2017.
Mas e o ENEM, ele não será atingido? É mais fácil dizer o futuro ganhador da mega sena do que responder a esta pergunta. Em 2017 a sua aplicação ocorrerá em 2 domingos seguidos: 05/11 e 12/11.Tal mudança foi solicitada por mais de 60% de estudantes que não mais aceitavam o modelo antigo de 2 dias seguidos de prova. Para uns foi uma mudança benéfica no sentido de ter um fôlego a mais de estudo. Para os críticos, o cansaço e a tensão de participar do ENEM poderão prejudicar aos candidatos nervosos.
"VAMOS AGUARDAR SE ESSAS MUDANÇAS TRARÃO MAIS EFEITOS POSITIVOS OU NEGATIVOS." José Aldo.
Em seu aspecto prático, vamos aguardar se essas mudanças trarão mais efeitos positivos do que negativos. Mesmo assim, o INEP promete que o ENEM sofrerá algumas mudanças em seu estilo de prova.A começar, um caderno de prova mais atraente visualmente com questões mais curtas. Isso sem falar que a prova, futuramente, incluirá alguns conteúdos do ensino técnico a partir de 2018 ou 2019. Se isso realmente atrairá o estudante a concluir o ensino médio é uma grande incógnita.
De qualquer forma não esperemos flores deste governo no que tange à educação. Os ataques e a retirada de direitos continuarão até que não sobre mais profissional da educação básica.
JOSÉ ALDO CAMURÇA.
Doutorando em Filosofia pela UFC. Professor Substituto da UECE. Professor Efetivo da Rede Estadual de Ensino do Ceará.
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