segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

POR JOSÉ ALDO: A MORTE COMO SÍMBOLO DA “PACIFICAÇÃO” DA POLÍTICA BRASILEIRA.

A morte da ex-primeira dama Marisa Letícia na última semana trouxe a tona a seguinte tônica da disputa política atual no Brasil: um momento de trégua entre PT, PSDB e alguns outros partidos políticos envolvidos na operação Lava-jato. 
A emblemática cena do ex-presidente Fernando  Henrique Cardoso abraçando o ex-presidente Lula mostrou o quanto a dor da perda de um ente querido apazigua os corações mais duros, incrédulos. Sem falar ainda que traz uma “bandeira branca” na guerra pela disputa pelo poder no Brasil. 

Na história política brasileira do século XX algumas mortes tiveram algumas simbologias peculiares. Em 1954, por exemplo, com o suicídio de Vargas adia o projeto dos militares por 10 anos. Em 1967 o presidente Castelo Branco morre em um acidente de avião. Em seu lugar assume Costa e Silva. 
Já em 1985 a morte de Tancredo Neves foi a mais traumática. Isso porque o País começara a sair do regime militar e a figura de Tancredo representava o novo, a esperança por dias melhores. 
Porém, com a sua morte houve uma indefinição quanto aos rumos do País e, consequentemente, o receio da retomada militar foi especulado na época. O vice de Tancredo, José Sarney, assume a presidência tentando desvincular-se dessas especulações que pairaram em sua posse.

Voltando ao tempo atual, a morte da “dona” Marisa Letícia traz um elemento bastante pessoal por um lado e político por outro. Na primeira perspectiva deve ser considerada a pessoa Marisa Letícia, que além de conviver matrimonialmente com o ex-presidente Lula construiu ao lado do marido o PT, Partido dos Trabalhadores. Na segunda perspectiva, por sua vez, a situação política atingiu o seu lado mais frágil, sensível. 

Com o instituto da “delação premiada”, atrelado aos escândalos do PT nos últimos anos e ainda a espetacularização do judiciário (subtende-se as ações do Juiz Sérgio Moro), o coração da “dona” Marisa não suportou a sobrecarga/ a avalanche de emoções e situações. 
Mesmo porque tais ações judiciais atingem os membros de sua família. Do marido (hoje viúvo) aos filhos, a família de dona Marisa está envolvida em situações que merecem ser melhor explicadas. Tal sobrecarga de denúncias atinge a qualquer pessoa em seu aspecto mais íntimo. Marisa Letícia, infelizmente, foi mais uma vítima desse turbilhão político vivido no Brasil atualmente.

A lava jato antecipou o processo eleitoral de 2018 em 3 anos, aproximadamente. De 2014 até o presente artigo, várias delações aguardam o referendo do STF para serem divulgadas. O peso político de tais denúncias se torna uma incógnita no mundo político. Isso porque todos os partidos com os nomes mais renomados, “badalados” estão envolvidos direta ou indiretamente. 
Se por um lado a eleição de 2018 está longe, por outro as ações do Juiz Sérgio Moro e as divulgações dessas denúncias na grande imprensa podem atrapalhar os planos de Lula, por exemplo, em retornar ao palácio do planalto. Sem falar ainda que a pressão da sociedade por sua prisão torna as suas chances de vencer a disputa quase que “impossível”.

Porém, como dizia um determinado político cearense, “a política é dinâmica”. Dito de outro modo, muita coisa poderá acontecer, ou não, no jogo político. A morte de Marisa Letícia pode até ter trazido dor, sofrimento ao ex-presidente Lula, Mesmo assim, do ponto de vista estratégico, pragmático da política poderá trazer algum fôlego ao ex-presidente quanto aos seus planos eleitorais em 2018. 
Mesmo assim Lula precisa cuidar agora de outro problema: as delações da ODEBRECHT  que serão divulgadas nas próximas semanas.

Caso alguma dessas delações forem encontradas provas materiais, cabais de seu envolvimento, Lula poderá ter decretado a sua “morte política” no próximo pleito. Diante desse cenário tão incerto, duvidoso é preciso aguardar os próximos passos desse tabuleiro de xadrez complexo da política brasileira. 
Mesmo porque o governo Temer ainda está funcionando, apesar dos pesares. As reformas da previdência, trabalhista também poderão decretar a morte política de Temer em 2017. 

Percebe-se, portanto, que a morte de dona Marisa Letícia não é algo apenas isolado, à parte  da vida particular de uma família. Interliga-se a uma série de fatores que podem gerar várias mortes políticas. As ações de 2017 determinarão quem sorrirá no final da história em 2018. Ou ainda, as ações de 2017 podem representar a continuidade do ano trágico, mortal como foi 2016. 



JOSÉ ALDO CAMURÇA.

Doutorando em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor substituto da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Professor efetivo da Educação Básica do Ceará (SEDUC). Contato: aldolike@gmail.com

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